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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Julgamento: A Caixa Preta do Skate


Há uma questão relativa ao skate que quase ninguém gosta de abordar, ou o faz de maneira radical demais pra ser levada a sério. Realmente, por mais problemas que se possa ter nesse quesito, não dá pra ir muito adiante em debates que se iniciam por termos como "roubalheira", "palhaçada" ou "bicaram fulano". Pra criticar, é preciso ter um mínimo de critério e lógica senão fica parecendo muito mais uma birra do que um debate saudável.

Sendo assim, cabe a pergunta: Por que é tão difícil de se estabelecer de uma vez por todas um critério de julgamento coerente pra campeonatos de skate?!

É bem verdade que a CBSk tem cursos de juízes e procura uniformizar os critérios de julgamento, algo que não havia sido tentado antes nas primeiras gestões da entidade - e por nenhuma outra antes dela, é bom que se diga. É evidente que esse é um passo gigantesco nesse sentido, uma vez que já fazia tempos que essa necessidade se fazia cada vez mais urgente. Com maior profissionalismo vem mais responsabilidades, e o julgamento de eventos não poderia ficar à margem disso.

Rodolfo "Gugu" Ramos teve de detonar obstáculos, competidores e juízes pra se sagrar Campeão Mundial de Street.

Só que infelizmente não há ainda nenhum método que possa contrabalancear um fato consumado: julgamentos de campeonatos baseiam-se em critérios subjetivos. Ou seja, por mais que se treine, oriente e procure-se fazer com que os julgamentos sejam homogêneos, a nota a ser dada ao competidor ainda vai da cabeça de cada juiz. E é sempre um perigo quando o homem resolve impor suas vontades pessoais sobre um critério qualquer, seja quando for... Quem nunca presenciou um evento no qual os juízes foram mais "amigos" de um skatista do que de outro, ou quem jamais saiu insatisfeito de um resultado de evento, que atire a primeira pedra.

Há algum tempo, entrei em contato com 2 juízes da entidade nacional a respeito do assunto, e quis saber quais são os critérios que são levados em conta nos dias de hoje. Afinal, apesar de ter farta experiência em ter julgado eventos nacionais e internacionais, já tem algum tempo desde que fiquei sentado por horas com uma prancheta analisando as voltas dos outros. Portanto, uma reciclada cairia muito bem, certo?!

Antes tivesse sido assim. Primeiro ambos falaram aquilo que todo mundo envolvido no meio já sabe: eles julgam de acordo com "estilo, velocidade, continuidade, execução e dificuldade de manobras e aproveitamento da área de competição". Até aí, nenhuma novidade. O bicho pegou quando eu pedi que eles definissem "estilo", por exemplo, já que os outros critérios são tão óbvios que falam por si só. Nenhum dos dois soube me definir de maneira clara e objetiva o que eles considerariam como sendo um bom estilo ou, por outro lado, o que seria um mau estilo.

O cenário só piorou quando questionei dois dos juízes da WCS aos quais tenho acesso. Um deles foi vago e acabou não definindo nada, enquanto que o outro veio com o papo de "quem tem estilo, sabe o que ele é"... Perfeito - só quero ver é falar com os competidores que eles são julgados dessa forma.

Não se sabe o que mais machuca as canelas do Allan Mesquita: se o skate dele ou as bicas que leva de juízes pelo mundo afora.

Pode piorar ainda mais?! Claro que sim: perguntei também se eles criam algum tipo de expectativa antes da apresentação de alguém muito conhecido. Outra unanimidade, já que todos responderam que "não". Quando mudei o sujeito da questão pra alguém que fosse um(a) total desconhecido(a), a coisa mudou de figura. Houve quem desviasse do assunto ("ninguém é totalmente desconhecido no meio do skate hoje em dia"), e um deles deu o veredito: "é possível, mas é muito difícil de algum desconhecido me surpreender".

Deu pra entender perfeitamente como é que caras como Allan Mesquita, Sandro Dias ou Rodolfo "Gugu" Ramos são tão prejudicados em eventos ao redor do mundo.

Há alguns anos, eu e o Cesinha Chaves desenvolvemos critérios lógicos e óbvios de julgamento, baseados naquilo que vimos acontecer numa competição europeia a qual nós cobrimos na época. O guia de juízes era tão completo e abrangente que nós só tivemos três trabalhos: pedir autorização, traduzir e adaptar à nossa realidade de então. Tivemos o maior cuidado em enviá-lo pra UBS e, alguns anos mais adiante, eu mesmo enviei pra 1a diretoria da CBSk. A UBS até que nos agradeceu pelo menos, embora não tivesse adotado nenhum critério daqueles ao que eu saiba; já a galera da CBSk de então, simplesmente devolveu o documento dizendo que "uma nova era no skate brasileiro havia se iniciado, com a mínima influência possível de antigos maus hábitos do passado". Pra bom entendedor, meia palavra basta - não éramos benvindos.
Sandro Dias é pentacampeão mundial de vert, e poderia ter pelo menos mais dois títulos caso não tivessem errado tanto nos julgamentos de suas apresentações.

Quando juízes de eventos profissionais não conseguem sequer definir aquele que é o critério mais subjetivo em seus julgamentos, é porque alguma coisa está muito muito errada no ar.

Enfim, a questão é muito mais séria e profunda do que se imagina. Já passou da hora de juízes de eventos pararem de serem "amigos" ou "inimigos" de competidores, ou de julgarem algum rolé motivados por aquilo que eles "sabem que o cara (ou a mina) podem fazer" - o certo é julgar o que se vê naquele momento independente de quem seja. Da mesma forma, já deu essa história de juízes não prestarem atenção, estarem fora de condições físicas e psicológicas pra trabalharem ou de adotarem tratamento bairrista / nacionalista com quem quer que seja. Quem exige profissionalismo na hora de receber metade do cachê adiantado, e viaja-come-hospeda na aba dos outros, tem mais é que ser o mais profissional possível na hora de julgar. E na boa, não estará fazendo nada além do que sua obrigação.

Resumindo: Está na hora de uma virada de mesa em critérios pouco transparentes de julgamento de eventos de skate.

Fotos:
- Allan Mesquita - Júlio Tio Verde, PENSE SKATE
- Sandro Dias e Rodolfo "Gugu" Ramos - Internet

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